O CENÁRIO
Baltimore.
Cidade portuária do estado de Maryland nos EUA. Perto de Nova Yorque e Washington D.C. Possui um lado antigo e sujo e outro moderno e desenvolvido no centro.
OS PERSONAGENS
O JUIZ
Daniel Phelan
Num julgamento de traficantes locais de Baltimore onde um traficante acusado, sobrinho de um suposto gangster é liberado, o Juiz Phelan ao bater o martelo nota o desdenho de um policial que acompanha o julgamento. O policial é da homicídios é James McNuty. Em sala fechada o Juiz quer saber o desdém do oficial da homicídios. Que vomita toda a hipocrisia do sistema judiciário ocidental.
Ali naquele momento. Em 2008 no canal HBO, não nasce uma grande série de TV. Mas a maior tese de estudo do sistema nervoso de uma grande cidade.
O JUIZ não é um idealista. Pressiona a Prefeitura. Que arranca verba pra criar uma divisão secreta, a CRIMES GRAVES. A verba era da EDUCAÇÃO e isso vai afetar lá na QUARTA TEMPORADA de uma “série” de 5 temporadas. O Juiz quer lobby pra uma candidatura de magistrado federal. Quer estar na capa dos jornais.
A PROMOTORA
Rondha Pearlman
Dedica 110% da sua vida a conseguir um caso criminalista grande e alavancar a carreira. Luta por isso. Sua vida social é rasa. Vai pra cama com policiais casados no fim da jornada de trabalho. Nutre um amor pelo policial McNuty não correspondido sentimentalmente, só sexualmente. Competente profissional.
O PREFEITO
Clarence V. Royce
Um prefeito picareta. Politiqueiro. Negro numa cidade de maioria negra ele nomeia um Comissário Negro para Polícia. Desvia verba da EDUCAÇÃO pra fazer lobby para o JUIZ. A verba vai para a secretaria de SEGURANÇA. O Prefeito deve favores políticos a um senador corrupto que o elegeu. Por isso não pode fazer vista grossa contra o tráfico. Pois o tráfico é dos negros, eleitores do senador Clay Davis.
VEREADOR
Thomas Carcetti
É um vereador que tem como lema de trabalho a segurança. Aos poucos ele vai fazendo estardalhaços na câmara pra sacudir a incompetência do Prefeito. Consegue manipular o Comissário mentindo verbas, e o negócio cresce. O que era um idealismo começa a se transformar em politicagem pra uma candidatura a prefeitura. Esse personagem é ESPETACULAR. Você não dá nada pra ele no começo. Depois você acredita nele. Vota nele. Sonha com ele. Mas a série te dá um ponta-pé no pescoço quando ele assume a prefeitura.
Um ex-prefeito, na série resume a prefeitura. O cargo. A frase:
” Todo dia você almoça de manhã e a tarde você tem que comer uma tijela de merda. Engolir mesmo. A Tijela de merda vem com bastante sustância até a borda. E você tem que comer tudo. Um dia é a Tijela da Educação, outra dos lixeiros, dos bombeiros, da Igreja, etc.. É muita MERDA pra comer em 4 anos.”
O COMISSÁRIO
Ervin H. Burrel
Um Comissário que só trabalha com números. Diminuir o número de homicídios. Não derrubar cartéis de droga ou tráfico portuário. Mas diminuir corpos. O tráfico sustenta campanha eleitoral através de lavagem de dinheiro em imóveis públicos desocupados. Não dá pra derrubar o tráfico sem seguir o dinheiro. Burrel é liso. Rasteiro. Esse é Burrel.
E A LEI DA SÉRIE É: “NÃO SIGA O RASTRO DO DINHEIRO. SE SEGUI-LO VOCÊ VAI VER AS ENTRANHAS DO CORPO”. E são sujas. Feias.
O SUB-COMISSÁRIO
Willian A. Rawls
Números. Números. Ele só segue o sistema e as ordens que vem de cima. Grosso. Policial de escritório. Totalmente político e oportunista. Não importa o ninho de cobras que vive, ele se torna só mais um delas. Ele não é culpado, é fruto de um sistema viciado. Baixar o número de homicídios é uma chance de candidatura a Comissário, uma aposentadoria mais rentável e um lobby pra secretaria de segurança quando o prefeito for ao governo. Redefinir as divisas de onde são encontrados corpos é fundamental pra diminuir os números de homicídio. Odeia idealistas. Não existe o IDEAL. Existe o REAL. É um machista brutal que na verdade é um gay enrustido. Secretamente.
OS POLICIAIS
CRIMES GRAVES – Força tarefa especial.
Coronel Cedric Daniels
Se existe retidão e excelência ética-moral em BALTIMORE ela se concentra em Daniels. O único personagem de THE WIRE que mantém sua sobriedade diante de tanta burocracia, política, corrupção e degradação da sociedade. Ele é um CÂNCER em qualquer delegacia ou departamento. Porque quer fazer o CERTO. E acaba sempre sendo derrubado. Ele é competente. Estrategista e excepcional comandante. Mas ser decente nesse mundo é quase um CRIME. Ele é destacado para essa divisão, a CRIMES GRAVES mais como um jeito de tirá-lo do sistema. Porque no sistema ele não pode existir.
Jimmy McNulty
Detetive da divisão de homicídios de Baltimore. Que é despachado para uma divisão especial de crimes graves. Que se torna a THE WIRE. Grampeamento de telefones de suspeitos no tráfico de entorpecentes. Divorciado. Alcoólatra. Péssimo pai. Péssimo companheiro de trabalho. Colecionador de inimigos. Anti-ético. Desbocado. Excepcional detetive. Péssimo amigo. Auto destrutivo e totalmente destrutivo com as pessoas e o mundo ao seu redor.
Lester Freamon
Todos os policiais que são honestos, se destacam e ganham espaço sem conchavos políticos são rebaixados. Sem ajuda política ou de amigos você não sobe de cargo. Você é rebaixado até o PORÃO. É nos achados e perdidos do Dpt. de Policia de BALTIMORE que são rebaixados aqueles que se negaram a conchavos. Lá estava Freamon. Um policial de investigação excepcional. Mas difícil de ser comandado. Sua técnica exige muito investimento por parte do estado pra prender os GRANDES.
Gregs “KIMA”
Uma policial iniciante da Homicidios que também é destacada para a CRIMES GRAVES. Ela é promissora e correta. É uma cria do antigo departamento do Daniels. É gay e enfrenta dificuldade em manter seu relacionamento estável com a grande investigação que a CRIMES GRAVES começa a executar. SEGUIR O DINHEIRO em vez de seguir OS TRAFICANTES.
Pryzbylewski
O personagem começa como um dos piores seres humanos que existe na face da terra. E termina a série como um dos mais espetaculares seres humanos da terra. Pryzbylewski é a CHAVE da série. É a transformação da série convencional em algo acima da média. O personagem é baseado na própria trajetória de um dos criadores da série. Ed Burns. Ele é um policial apadrinhado pelo sogro que é chefe. Todas as suas sujeiras são apagadas pelo pessoal de “cima”. Ele é tudo que mais se odeia no sistema. Ele é nepotismo cravado na nossa sociedade. Atrapalhado. Incompetente e violento nas ruas. Aos poucos ele vai se tornando um dos melhores investigadores da série. Um rei da matemática de investigar. Até atingir seu ápice quando larga tudo pra lecionar em escola pública. Convivendo de perto com os “filhos” de quem ele prendeu. É o ápice da série. É onde a gente deixa de ser só um telespectador e cresce como ser humano. É o segundo melhor personagem da série.
Carver
Policial que tem potencial para ser um bom investigador mas acaba tendo um processo lento pra isso. Pois não tem paciência para esperar as coisas acontecerem. Quer resolver tudo rápido. Prender rápido. Mas com o passar dos anos se torna um personagem muito bom. Na quarta temporada uma tragédia acontece sob sua tutela e muda tudo na vida de Carver.
Herc
A grosseria e burrice desse policial brucutu só não são menores que seu amor em ser policial. É isso que faz do Herc um policial bacana de acompanhar na sua trajetória. Em THE WIRE não existe caricatura de personagens, é transformação e adaptação ao meio em que vivem . Isso é que é bacana. Ele é crucial na temporada final. Cada personagem em THE WIRE no início ou no final teve ou vai ter uma importância muito grande no quebra-cabeça social de BALTIMORE.
Sydnor
Policial dedicado e idealista. Tem uma trajetória nas “beiradas” da série mas nunca saiu da CRIMES GRAVES.
HOMICÍDIOS
Landsman
Delegado viciado no sistema. Números é a sua lei. Não tem jeito. O gordo apurrinha muito a engrenagem. As coisas não andam. É muito favor e patentes pra um crime se resolver. É um personagem machista. Porco. Mas “eles” existem.
BUNK
Parceiro de Mc Nulty na Homicídios antes de Mcnulty ir para a CRIMES GRAVES. Sofre uma pressão desgraçada pra limpar a pauta de homicídios da sua delegacia. Alcoólatra. Péssimo marido. Ótimo amigo para as bebedeiras de fim de expediente. Mas um policial experiente que sabe todas as artimanhas pra resolver os casos. A burocracia da justiça impede BUNK de ser um policial espetacular. Porque não adianta você ser bom. Tem um monte de MERDA te impedindo de se fazer um bom trabalho. Personagem ESPETACULAR.
RUAS
D’Angelo Barksdale
Ele é o start inicial da série. Ele é o traficante solto em julgamento no primeiro episódio que dá origem a THE WIRE. Um personagem filho do sistema. Uma boa alma abraçada pela família criminosa. Uma tentativa de dar certo que não deu. D’Angelo é excepcional.
Avon Barksdale
O gangster mor das ruas de BALTIMORE. Só que é intocável. Você não vai ver muito ele na série. Porque é muito difícil pegar esse NEGO. Minha nossa. Tem uma rede muito grande de proteção. Que vai de marginais comuns e juizes e políticos. E é um criminoso de uma esperteza sem limites. Seu defeito é o sangue das ruas nas mãos. Isso vicia. O poder vicia.
Tem uma expressão que faz parte das ruas em THE WIRE. É o GAME. se você está no GAME você é um criminoso ou faz parte disso.
Stringer Bell
MINHA NOSSA SENHORA! Já vi filme pra cacete de gangster e criminosos. STRINGER BELL varreu muito nego pra de baixo do tapete. Sua inteligência chega a irritar. Stringer Bell é o TERCEIRO melhor personagem de THE WIRE. Só perde para o Prezbelusky. Ele é a “inteligência” da gangue de Barksdale. O braço direito e o esquerdo. Ele é economista e legaliza a grana suja pra virar limpa. Negocia com senadores, traficantes, chefes de comunidade, fornecedores e tem uma papelaria. É um personagem ES-PE-TA-CU-LAR.
Wee Bay
O anjo da morte de Barksdale. Faz o serviço sujo. Manda todo mundo pra grota.
Preston Bodie
Traficantezinho de esquina. Que tem uma trajetória incrível na série. O sonho é alcançar o topo. Mas THE GAME é muito foda pra ele.
Proposition Joe
Um traficante das antigas que comanda uma parte de Baltimore. Que se vê apertado com o crescimento e a fúria de Barksdale e de Marlo. Proposition Joe consegue o fornecimento de drogas através de ligações portuárias. Ele é uma das chaves da investigação.
Marlo Stanfield
É o “cara” que nasceu pra derrubar Barksdale. É um gangster que compõe a segunda geração do crime de THE WIRE. Sua ascensão em todas as esquinas de Baltimore é através da violência e intimidação. Ao contrário de Barksdale Marlo é centralizador e individualista. Muito mais cruel.
Chris Partlow
Se Barksdale tinha Stinger Bell, Marlo Stanfield tem o Chris. QUE PERSONAGEM ESPETACULAR! O NEGO é a sombra da morte em pessoa. Ninguém o destrói. Mais frio que o Alaska. Se supõe que sofreu abuso na adolescência. Mas é um mistério esse personagem, está aí talvez seu charme.
Snoop
É uma mulher. Por incrível que pareça. Parceira de Chris. Um anjo assassino. Na vida real é uma ex-criminosa.
Cutty Wise
Cutty é para onde THE WIRE quase aponta um caminho. THE WIRE não é didática e não quer dar mensagens. Mas o personagem de Cutty é o SOCIAL da série. Ele é um ex-detento que monta uma academia de boxe pra salvar jovens do crime. A trajetória de Cutty aponta um caminho, uma solução para o problema. Mas não resolve. É um personagem bom. A trajetória dele é bem contada.
OMAR LITTLE
Para muitos o melhor personagem de THE WIRE. Para o Presidente OBAMA que é fã de THE WIRE, OMAR é o grito da série. OMAR é uma maior assassino da série. Só que é um Robin Hood. Só mata traficantes. É imbatível. “Impegável”. É um personagem cativante. E a ironia de tudo isso. O personagem mais FODÃO de THE WIRE é gay. Isso é demais.
BUBBLES
Quase me esqueci de um dos melhores personagens da série. Bubble é um viciado. Morador de rua. Que conhece todo mundo, ganha a vida catando lixo e fornecendo informações para a CRIMES GRAVES. Bubble é carismático e derrotado. Mas a transformação do personagem da primeira temporada até a última, dá um épico sobre o vício sem precedentes!
O PORTO
Frank Sobtka
Um sindicalista que faz a série migrar pra outro tema. A falta de emprego. A modernização tecnológica no trabalho. E a adaptação aos novos tempos. A corrupção no sindicado e no Porto.
Ziggy
É o filho de Sobotka, esse personagem é ES-PE-TA-CU-LAR. É a impotência do jovem moderno. É a busca por respeito onde não tem.
Nick Sobtka
Aí está um caso claro sobre onde a série quer chegar. Um jovem ambicioso que só quer dar um lar para família. Se beneficiar do American Way life. A falta de oportunidades clara leva esse jovem a entrar e se viciar em trabalhos sujos por dinheiro. O negócio cresce mais que ele imagina. Fica tudo muito incontrolável. Acaba numa tragédia de grandes proporções dramáticas para a série.
EDUCAÇÃO
Howard Bunny Covin
Começa como Major da polícia e se torna um dos maiores pensadores do sistema EDUCACIONAL de Baltimore.
Tem uma temporada que ele faz um plano ousado pra domar o problema das drogas nas ruas. Polêmico até. Que se discute a legalização das Drogas. É com Colvin que a gente vê os grandes debates de THE WIRE. Moral e éticos. É onde a gente acredita e deixa de acreditar na sociedade. Nas pessoas. Personagem magistral.
AS CRIANÇAS
Representam uma das temporadas mais elogiadas da série. A QUARTA TEMPORADA.
Que centra no sistema educacional de BALTIMORE. É onde se vê onde vai chegar um aluno no futuro. É onde se vê que não há futuro.
É genial e foge de todos os clichês do gênero. O final dessa temporada é arrebatador.
A IMPRENSA
A última temporada é a visão da imprensa sobre tudo. É o pente fino sobre tudo que a série mostrou. É a hipocrisia no auge. É a decadência do jornal impresso na era digital. É também os critérios e ética na publicação de matérias. É a cereja no bolo.
E o melhor personagem é SENADOR CLAY DAVIS
” shhhhhhhhhhhhheeeit!” Frase clássica do Senador Davis.
Inacreditável o julgamento final de um dos mais corruptos políticos da série. O texto foi excepcional e mostra a fragilidade do sistema tanto nos EUA quanto aqui no BRASIL pra lidar com crimes de poder e desvio de verbas.
A trajetória desse personagem é mais um épico em THE WIRE. É o cinismo máximo da série.
The Wire é uma série de TV criada por David Simons, ex-policial de Baltimore e Ed Burn, ex-professor. É inacreditável o que esses caras criaram. Eu nunca vi nada igual. The Wire é uma OBRA PRIMA da dramaturgia. Tudo que eu lia a respeito era a mais pura verdade. A série é ótima. Gastei um tempão tentando resumir o ” iresumível” que é essa série. Eu tentei escrever o que eu absorvi de leve. Não deu pra falar muito, mas é o que eu não encontrei na internet sobre THE WIRE. Um resumo de seus personagens principais. A CIDADE e seu sistema.
Não falei da missa a metade ainda. THE WIRE é muito maior que esse texto.
Grato.
Bom resumo. Vou assistir certamente. Abs.
Descobri seu blog por acaso e passei rapidinho por esta postagem pra evitar spoilers. Comecei a ver “The Wire” recentemente e, de fato, é genial. Na falta de cobertura da série nos blogs brasileiros, estou escrevendo sobre cada episódio, IMEDIATAMENTE após assisti-los, e postando no Comentários em Série (http://www.comentariosemserie.com/)
Quando terminar tudo, passo neste post novamente pra ler sua compilação. Parabéns!
Abços,
Hélio
assisti o episódio piloto e não achei nada demais, é só mais uma daquelas séries de investigação policial, mas por se tratar de gueto, política, corrupção, tráfico de drogas, então é uma série genial pra quem tá estudando todo o desenrolar de um sistema criminal de uma grande cidade, a série é como se fosse uma câmera ao vivo no gueto e no escritório
assista denovo.